Dicionário relacional
Porque quanto maior o número de conceitos, melhor conseguimos entender o cenário que nos encontramos
Pessoas que moram em lugares muito frios, tipo Alasca, tem diversos substantivos e adjetivos para “neve”, enquanto aqui no Brasil só temos a palavra neve mesmo.
Indígenas tem, em seu vocabulário, inúmeros nom s distintos para verde. Até que conhecemos o verde água, bandeira, musgo, azulado, mas de fato ainda assim é bastante restrito.
Visitei nesse fim de semana Paranapiacaba, uma cidade próxima de São Paulo, e pegamos muita neblina lá (não se via nada além de 5 metros à frente). A grande piada foi tirar uma foto da vista, do relógio, do campo de futebol. Todas fotos brancas.
E pensei nessa analogia, de que quando temos um palavra só para descrever alguma coisa, se torna essa grande neblina em que não é possível identificar com precisão o que está acontecendo.
Desde 2015 começou a se tornar comum discutir as miudezas da violência sutil que nos atravessa diariamente.
A neblina que se chamava relacionamento ganhou palavras como manipulação, toxicidade, gaslighting, mansplanning.
A neblina de que “o brasileiro não é preconceituoso” foi dissipada por palavras como capacitismo, etarismo, racismo estrutural.
As pessoas que colocam tudo isso dentro do saco chamado “mimimi” só enxergam a neblina.
Dói perceber o tamanho do volume e diversidade da violência sutil que existe à nossa volta. A neblina nos impede de enxergar a profundidade do precipício.
Eu dou muitas estrelinhas para mim mesma quando saio de um almoço de trabalho listando todas as violências cometidas na mesa pelas pessoas importantes em forma de comentário.
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